Dizem que: “Espelho não mente”. Narciso, debruçado sobre a fonte, disse: “Fica,
peço-te, fica! Se não posso tocar-te, deixe-me pelo menos admirar-te!” e morreu
contemplando uma incauta ilusão. A madrasta de Branca de Neve, olhando-se no
espelho, perguntou: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?” e
o espelho desfez sua ilusão. Cecília Meireles escreveu: “Em que espelho ficou
perdida a minha face?” e, no próprio poema, o eu lírico desvenda sua amarga
ilusão. Desde os gregos até a “moderna-idade”, a fuga para o espelho tem
revelado a busca do homem por si mesmo e/ou pelo mundo em que ele habita. De
Guimarães Rosa, passando por Machado de Assis, a Chaia Zisman, sempre haverá um
texto em que o espelho será o centro de todas as atenções. Ele aguça a
curiosidade, atiça os desejos e desvenda os mistérios...
A sombra esquizóide de
“Constância” escreveu: “Refletida no espelho não conseguia visualizar-me. Eu
estava ausente. Via ali uma sombra difusa, confusa. Mas era narcisista.
Contemplava uma efemeridade. Contemplava o espectro de Constância e, em seus
olhos, eu via a tristeza, o vazio e o medo escondido num véu de ilusão. Bem que
eu lutava e lutava... e novamente o espelho. Disfarce. Fantasia. E
narcisisticamente me contemplava e contemplava Constância”. O que fez a
personagem-sombra? Jogou o espelho ao chão, pisoteou-o, mas mil pedacinhos
continuavam contemplando-a. A ela só restou ir dormir, porque o dia seguinte
seria longo.
Assim são as diferentes
histórias que se vê por aí. Muitas delas embrenhadas em sonhos e pesadelos. Ou
melhor, o sonho pode não passar de uma dolorosa similitude com o pesadelo.
Paradoxos que o espelho trata de desfazer. A maioria das pessoas esquece de se
olhar no espelho... E muitas nem se olham porque já não se reconhecem. Outras se
miram horas e horas e contemplam uma imagem que, embora refletida, não são
delas. Se é para se iludir, é melhor ouvir Bach, Chopin, Missal, Strauss ou,
quiçá, sair por aí e tomar um chope no bar da esquina. Cria-se um mundo à parte
e, a partir dele, vive-se uma vida de mentira. Tudo se torna uma grande mentira.
E grandes mentiras com o tempo se tornam grandes verdades, embora a recíproca
também possa ser verdadeira. Aí surgem as dores, os temores... Os fantasmas!
“Mas isso pouco importa. Quando principia o amanhecer, que diferença faz o galo
que canta?”, né, Constância, de todo jeito vamos ter de acordar
mesmo!?
Autor: Roziner Guimarães
imagem copiada do "diário da minha Psiquê".
imagem copiada do "diário da minha Psiquê".
Adorei! Bjos
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